Eu sou o homem para casar com a minha filha?

Raphael Bózeo
2 min readOct 13, 2016

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O dia mais feliz da minha vida foi há quatro meses. Não foi o meu casamento, não conheci o Paulinho da Viola, muito menos vi o Flamengo ser campeão. Ganhei dois sapatinhos naquele dia dos namorados, símbolo da minha nova missão de vida: ser pai.

Um porre de felicidade. Choro, emoção, um deleite arrepiante, mas principalmente uma vontade absurda de mudar o mundo. Mas esse sentimento ficou ainda maior quando soube que seria pai de uma menina.

Aí você entra num circuito muito louco. Me olhei no espelho e perguntei: Eu seria o homem para casar com a minha filha?

O pior de tudo, me reprovei. Tem tanta coisa que queria fazer diferente, tantas condutas erradas desculpadas pela máxima: “eu sou assim”. E isso começa a doer quando você sabe que virou mais do que um desejo lá no fundo, agora é uma necessidade. Pela Maria, pela minha incrível esposa, mas principalmente por mim.

O lado bom é que saímos da zona de conforto. Abre espaço para uma grande reflexão e um processo de reforma pessoal. Quero ser apenas o melhor que eu possa ser, nada de querer ser perfeito.

Sei que vivemos numa sociedade extremamente machista. Exemplo bobo e corriqueiro disso, ouvi de muitos amigos: “se ferrou, passou de consumidor para fornecedor”. Fornecedor de que? Acertou se disse de amor. Amor mesmo, amor puro. Amor humano. Amor de criança.

Só que vivo nesta sociedade machista, e também sou. E para aprovar o casamento da minha filha comigo mesmo, isso precisa mudar.

Talvez seja utopia, mas o que me alimenta é poder mudar o meu mundo para receber a pequena Maria com mais amor e bons exemplos. Talvez mudando a minha rotina, talvez me preocupando com a educação dela dia após dia, eu saia mais educado.

E se um dia me tornar o homem que gostaria que casasse com a minha filha, estarei no caminho certo. Talvez eu tenha alcançado a minha missão.

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Raphael Bózeo

Pseudojornalista vidrado por fotografia e com paixonite por cinema. Encantado por cultura afrobrasileira, amo samba sem saber dançar. Vivo mais do sobrevivo.